Foto do espetáculo "Vida é Sonho", Grupo Arcênicos 2007 na arena do CC, atores Thiego e Durval.
Carlos Drummon de Andrade foi sábio ao escrever o poema "No meio do caminho" porque, cedo ou tarde você encontrará sua "pedra", comigo não foi diferente, a "pedra" encontrada era conhecida e se fez incomodar sobre a minha PROFISSÃO DE ATOR.
Meu irmão, amigo e parceiro de jornada, o ator Thiego Torres e eu, caminhávamos pelo centro de Atibaia quando encontramos uma colega de teatro das antigas, da época que fazíamos teatro na escola, existe outro ditado que se enquadra bem o que quero dizer, "cada um tem a Cruz que merece", mas esta não merecemos, na verdade não aceitamos as mazelas desta colega.
Logo depois dos cumprimentos a colega perguntou o que "fazíamos" da vida, com orgulho e honra respondemos que continuávamos a trabalhar com teatro, porque é o que realmente fazemos!!! Ela surpresa e logo depois sarcástica, questionou se não gostaríamos de "trabalhar" verdadeiramente encontrando um emprego, ainda teve a grande idéia de nos aconselhar a deixar "essa brincadeira de teatro", ter um emprego com carteira assinada, salários fixos e responsabilidades... etc e tal.
A quem devemos servir? Tu serve a Deus ou a Cesar? Tu serve ao próximo ou a si mesmo? MINHA PROFISSÃO É SER ATOR E TENHO ORGULHO DELA!!! Minha profissão proporciona ao público inúmeras emoções e espírito crítico, ambos surgem dentro de uma grande gama de possibilidades. O teatro serve ao próximo e o poder de comunicação através da arte é incalculável;
nós atores curamos a dor das crianças com câncer ou distraimos suas dificuldades,
nós atores dizemos, mesmo sem palavras, aquilo que você precisa ou queria ouvir,
nós atores mostramos a sociedade tal como ela é ou enfeitamos sua realidade crua,
nós atores levamos arte a lugares longínquos ou para perto,
nós atores trabalhamos com a arte para educar ou perverter de vez a nós mesmos,
nós atores imaginamos, até tarde da noite, um mundo melhor ou fantasiado,
nós atores lutamos por uma sociedade justa por toda a vida ou em momentos no palco,
nós atores somos uma metamorfose ambulante ou paradigma incessante,
nós atores sonhamos façanhas inimagináveis ou mesquinharinhas do dia a dia,
nós atores servimos à arte sem pensar no dinheiro ou nos prostituimos para ganhar,
nós atores respeitamos todas as profissões, porque são delas que nos nutrimos para montar nossas personagens, por isso tomo a liberdade de dizer que, ao respeitarmos todos os trabalhadores de uma sociedade diversificada, encontramos o bom senso da real convivência entre nós!!!
É um desabafo e não demagogia, trabalho com arte porque AMO e porque acredito no seu poder de transformação do homem!!!
Não viso apenas dinheiro, claro que preciso dele, mas não é o mais importante para mim e garanto que a quantidade que ganho hoje está de bom tamanho! Aos que reclamam fiquem tranquilos, porque quando minhas contas chegarem não pedirei dinheiro pra vocês para pagá-las.
Nós que trabalhamos com arte no Brasil encontramos muitas colegas como essa minha, são pessoas que não tem a sensibilidade do entender e muito menos do respeito às escolhas do próximo.
Eu sirvo ao próximo através do teatro, não critico outros profissionais, apenas observo todos aqueles que estão ao meu redor e tiro deles aquilo que me agrada e faz crescer. Nossa sociedade é complexa e diversificada, o sistema vigente proporciona serviço aqueles que gostam de dinheiro, não critico, mas compreendo porque cada um sabe o que realmente espera da vida, eu sempre espero mais, espero a arte, espero o inesperado.
